terça-feira, 30 de junho de 2020

Comprimido

Em cada ponto uma dor
Em cada parte uma tensão

Nos ombros
Estranha combinação
Primeiro, o peso
Exige o limite da resistência

Aparentemente suportável
Curta fosse sua estadia
Mas faz sentir que há décadas
Ali habita, empoleirado

Parece comprimir o corpo
A gravidade como aliada
Rebaixando cada vez mais
Um velho jovem, castigado

Oprime de tal forma
Que a escápula também se comprime
Cansando o diafragma
Limitando os pulmões

Ao mesmo tempo,
O mais comprimido dos ombros
O direito, onde se sente maior peso
Sinto estar sendo arrancado
Parece, me querem tirá-lo

Nele, o anzol
Invadiu a clavícula
Rasgou a carne
Seguiu seu caminho

Em sua curva
Atingiu a cervical
A qualquer movimento
Range nas vértebras

Os cansados quadris, sem uma lombar
Forte o suficiente para os apoiar
Perdem a mobilidade
Entregam-se aos sinais da idade

Com desproporcionais estalos
Os joelhos reclamam
Nas pernas,
Limitada circulação

Por todos os males
O corpo oprimido
Enxerga seu Midas
Em qualquer comprimido...

sábado, 16 de maio de 2020

Senhora


É porque, Senhora
Pra escrever
Não tem hora

A gente se abre
Põe pra fora
O que nasce no peito
E em rima extrapola

Escreve do amor
Escreve da dor
Do cheiro, do gosto
Do tato e da cor

Das conversas de antes
E das de agora
Por isso escrevi
Sobre você,
Senhora

Aprisionados

Eu sei
Você me pediu
Assim de repente
Para escrever
Sobre o que eu quiser
O que vier na mente

Mas o pensamento
Fala da gente
E é tão profano
Sim, é tão quente
Que pode não ser
Considerado descente

Então o que faço?
A ele renego?
Vida a este texto
Eu nego?
Ou levo à frente?

Eu nos exponho?
Tão publicamente?
Ou finjo que não
Repreendo a paixão
E o desejo ardente?

Conectados

A ponte nasce no olhos
Fixos, conectados
Desvio os meus pra tua boca
Os teus miram meus lábios

Se esta escada não abrigasse
Tantos outros olhos
Seriam os lábios,
Nossa nova ponte

Por eles, ligados
Os corpos, colados

Minha mão, teu pescoço
Minha barba, teu rosto

Abrir Coração

Coube ao tempo
Nos aproximar
Fechando os cânions
Formados pelas feridas
Abertas pela emoção

Não veio no vento
O confiar
Tecido com panos
De idas e vindas
Paz e confusão

Até o momento
De tudo abrandar
Enfim nos falamos
Palavras bem-vindas
Abrir coração

domingo, 12 de janeiro de 2020

Um Anjo, Muitas Feras

O anjo que conheces na superfície
É quem contém as feras mais ocultas!
Não o machuque, portanto.
Não inflija-o dor!

Não torne-o fraco, cansado, ferido
Ao ponto de não mais suportar as correntes
Ao ponto de libertar uma das tantas feras
Por falta de forças, ânimo ou motivação

Prisma (parte 2)

Porém, ainda assim,
Havemos de lembrar
Nem mesmo o prisma
Pode tudo revelar

Que há sobre o violeta?
E seu ultraorgulho?
Abaixo do vermelho?
Sofrimento alheio é nulo?

Busque sempre a essência
Mesmo sem enxergar
Não permita à sua fé
O seu amor cegar!

Prisma (parte 1)

Há mais cores na luz
Que olhos humanos
Não se virtuam a captar

Assim como há mais
Sobre o mundo, a vida
Sobre nós mesmos
Que somos incapazes de ver

A fé é o prisma
Que nos revela a beleza
Das cores da existência
Que sem fé
Não se pode perceber

Paz

Paz
Minha mente pede
Paz
Já não aguenta mais
Ininterrupto pensar

Preciso desacelerar
Deitar num rio
Viajar
Ir à montanha ou ao mar
Continuar assim não dá

Quero som
Quero música
Algo bom
Em qualquer tom
Seja do George, Paul ou John

Viver
Acabou chorare
Acabou sofrer
Quero ouvir, quero ver
O canto do Baleiro, o riso do bebê